214
EIXO 2 – PAULO FREIRE: MEMÓRIA, REGISTRO, IDENTIDADE E ACERVO
XX FÓRUM DE ESTUDOS: LEITURAS DE PAULO FREIRE
DE 03 A 05 DE MAIO DE 2018, UNISINOS – SÃO LEOPOLDO/RS
passando por diversos presídios de Recife e Olinda. Quando
solto, Freire viajou ao Rio de Janeiro sendo recomendado
para pedir acolhimento na Embaixada Boliviana, chegando
a La Paz com seus familiares em outubro de 1964. Porém, aí
ficou menos de dois meses, pois um novo golpe de Estado
o atacou, precisando se exilar no Chile. Durante o exílio no
Chile, escreveu o livro
Pedagogia do Oprimido
. No período
de abril de 1969 a fevereiro de 1970, Freire lecionou nos Es-
tados Unidos na Universidade de Harward. Posteriormente,
no período de 1970 a 1980, exilou-se em Genebra, Suíça.
A partir de 1975, quando conheceu Guiné-Bissau (África),
Freire trabalhou mais diretamente na África, em Cabo Verde,
Angola, São Tomé e Príncipe, que estavam em um período
de reconstrução, pela conquista da independência. Freire só
retornou ao Brasil no final de 1980. Por estes caminhos, Frei-
re escreveu sobre a experiência do exílio:
Na verdade, um dos sérios problemas do exilado ou
exilada está em como lidar, de corpo inteiro, com
os sentimentos, desejos, razão, recordação, conhe-
cimento acumulados, visões de mundo, com a ten-
são entre o hoje vivido na realidade de empréstimo
e o ontem, no seu contexto de origem, de que che-
gou carregado de marcas fundamentais. No fundo,
como preservar sua identidade na relação entre a
ocupação indispensável no novo contexto e a pré-
-ocupação em que o de origem deve constituir-se.
Como lidar com a saudade sem permitir que ela vire
nostalgia. (FREIRE, 2003, p. 34).
O exílio marcou profundamente suas reflexões. Pau-
lo Freire, mesmo com tamanha capacidade intelectual, não
teria tal abordagem questionadora da realidade sem a ex-
periência do exílio. Suas críticas e manifestações adquiriram
forma e consistência na medida em que esteve inserido nos
contextos de expatriação. Por isso, publicou diversas obras
que refletiam suas experiências no Brasil e suas vivências
nômades de exilado político. Da vivência comprometida
com os oprimidos, Freire construiu suas reflexões perceben-
do as incoerências e obstáculos do processo emancipador