XX FÓRUM DE ESTUDOS: LEITURAS DE PAULO FREIRE
DE 03 A 05 DE MAIO DE 2018, UNISINOS – SÃO LEOPOLDO/RS
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EIXO 5 – PAULO FREIRE E OS MOVIMENTOS SOCIAIS, EDUCAÇÃO E TRABALHO
incluir as mulheres. Freire percebe-se imerso em uma ideo-
logia machista: “Como explicar, a não ser ideologicamente,
a regra segundo a qual se há duzentas mulheres numa sala
e só um homem devo dizer: “
Eles todos são trabalhadores e
dedicados
?” Isto não é, na verdade, um problema gramatical,
mas ideológico” (2011, p. 93).
Michael Löwy traz, em vez de ideologia, o termo vi-
são social de mundo, que nos ajuda a compreender aqui-
lo que Freire percebeu ao dizer que essa discriminação da
mulher, feita nos discursos e expressões linguísticas machis-
tas “é uma forma colonial de tratá-la” (FREIRE, 2011, p. 94).
Para Löwy (2015), as “visões sociais de mundo seriam, todos
aqueles conjuntos estruturados de valores, representações,
ideias e orientações cognitivas. Conjuntos esses unificados
por uma perspectiva determinada, por um ponto de vista
social, de classes sociais determinadas” (p. 21). Ou seja, es-
tamos imersos numa
organização societária capitalista, pa-
triarcal e colonizadora imbricada na compreensão da explo-
ração e dominação e, portanto, os reflexos disto na materia-
lidade da vida das mulheres se apresentam em situações de
discriminação, opressão e violência, pois o “gênero, a raça/
etnicidade e as classes sociais constituem eixos estruturan-
tes da sociedade” (SAFFIOTI, 2015, p. 83).
A questão da linguagem é uma destas expressões imer-
sas nesta visão de mundo ou ideologia
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e, como percebeu
Freire, é preciso primeiro recusar este mundo patriarcal que
vai além da hierarquia entre as categorias de sexo, estando
emaranhado com classes sociais e racismo tendo como cen-
tralidade a contradição de interesses. Portanto, para Freire
“mudar a linguagem faz parte do processo de mudar o mun-
do. A relação linguagem –pensamento-mundo é uma relação
dialética, processual e contraditória” (2011, p 94).
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Löwy explica que as visões de mundo podem ser de dois tipos: visões
ideológicas e visões utópicas. As “visões ideológicas, quando servissem
para legitimar, justificar, defender ou manter a ordem social do mundo;
visões sociais utópicas, quando tivessem uma função crítica, negativa,
subversiva, quando apontassem para uma realidade ainda não existente”
(2015, p. 21).