1924
EIXO 11 – PAULO FREIRE EM DIÁLOGO COM OUTROS(AS) AUTORES(AS)
XX FÓRUM DE ESTUDOS: LEITURAS DE PAULO FREIRE
DE 03 A 05 DE MAIO DE 2018, UNISINOS – SÃO LEOPOLDO/RS
jamento pedagógico é orientado pelo questionamento: “para
que serve este conteúdo?” “Qual a utilidade deste conceito
para a vida dos estudantes?” Esta forma de proceder está em
flagrante contradição com o que preconiza Arendt ao afirmar:
no ensino se deve “ler os grandes livros por amor”, sem pro-
curar neles soluções para quaisquer problemas.
A escola moderna privilegia cada vez mais os conhe-
cimentos técnicos e menos os conhecimentos gerais, a par-
tir de critérios pragmáticos que buscam em todo conteúdo
alguma função prática. Almeida (2011, p. 175) apresenta
exemplos dessa tendência: ler um poema para explicar itens
de gramática; literatura só para ampliar conhecimentos; ati-
vidades musicais porque a neurologia descobriu que elas
desenvolvem habilidades cognitivas; história para conhecer
a ‘moral da história’; filosofia para tornar jovens mais éticos.
Estes e outros exemplos da indistinção entre utilidade e sen-
tido, entre pensar e conhecer, que acarreta no predomínio
do utilitarismo e do pragmatismo nas práticas pedagógicas.
A lógica do vestibular e a supervalorização do de-
senvolvimento de habilidades e competências expressam
o ideal de competitividade e do pensamento instrumental,
voltado ao conhecimento tido como verdade, como saber
sólido e relativamente duradouro. O pensar não vinculado a
utilidades práticas é considerado sem sentido. O estudo de
conteúdos da tradição, a poesia, a literatura, o movimento,
as artes, a filosofia e a afetividade são considerados menos
importantes, com relação aos conteúdos que podem tornar
os estudantes mais competentes para o mercado de traba-
lho ou que os capacita a “passar no vestibular”.
O problema central, nesse caso, não é procurar ser
aprovado nos concursos vestibulares ou tornar-se um pro-
fissional competente. A questão problemática é, em virtude
disso, abrir mão de compreender o mundo e nele estabe-
lecer sua presença, comprometendo a capacidade de pen-
sar por conta própria (
Selbsdenken
) sobre o mundo entre as
pessoas – um pensamento insubmisso a critérios que pode-
riam eliminar sua liberdade (ALMEIDA, 2011, p. 183).