XX FÓRUM DE ESTUDOS: LEITURAS DE PAULO FREIRE
DE 03 A 05 DE MAIO DE 2018, UNISINOS – SÃO LEOPOLDO/RS
1907
EIXO 11 – PAULO FREIRE EM DIÁLOGO COM OUTROS(AS) AUTORES(AS)
Por isso, como salienta Almeida (2011, p. 153), o juízo é a
faculdade do espírito mais política, por procurar uma vi-
são, isenta de interesses privados, com a qual, em princípio,
todos poderiam concordar. Assim como o querer, o julgar
aproxima-se dos acontecimentos particulares que exigem
discernimento e ação, enquanto o pensar precisa de distân-
cia, sendo este prioritário, uma vez que o pensamento traz
para o espírito os objetos com os quais o querer e o julgar
preocupam-se.
Por buscar sentidos, o pensar nunca é apenas um ins-
trumento. O pensamento não se restringe a exercer uma
função para outros fins, é uma atividade que tem um fim em
si mesma. Nas palavras de Arendt (1991a, p. 21): [...] Com
isso quero dizer apenas que os homens têm uma inclinação,
talvez uma necessidade de pensar para além dos limites do
conhecimento, de fazer dessa habilidade algo mais do que
um instrumento para conhecer e agir. Embora o pensamen-
to possa resultar em objetos e conhecimentos, esta ativida-
de não se restringe a isso. A compreensão sobre o mundo
é primordial para que os indivíduos reflitam a respeito de
seu lugar nele, estabelecendo um diálogo silencioso con-
sigo mesmos, que corresponde ao impulso, em que o eu
pensante busca sentido para as experiências e fatos.
Na concepção arendtiana, o pensamento decorre da
experiência, porém nenhuma experiência produz sentido ou
coerência indiferente das operações de imaginar e pensar,
exigindo o distanciamento do mundo para pensar sobre
os sentidos que não são dados a priori. A autora destaca,
também, o caráter autodestrutivo da atividade do pensa-
mento, enquanto desafio sem fim de exame dos fatos e de
retomada das reflexões anteriores com base nas novas ex-
periências, como um constante repensar. Para ela, “a tarefa
de pensar é como a teia de Penélope; que desfaz todas as
manhãs o que terminou na noite anterior”, sendo que “os
pensamentos que tive ontem satisfarão a necessidade ape-
nas na medida em que eu quero e sou capaz de pensá-los
de novo” (ARENDT, 1991a, p. 100-101).