1904
EIXO 11 – PAULO FREIRE EM DIÁLOGO COM OUTROS(AS) AUTORES(AS)
XX FÓRUM DE ESTUDOS: LEITURAS DE PAULO FREIRE
DE 03 A 05 DE MAIO DE 2018, UNISINOS – SÃO LEOPOLDO/RS
elaboração e proposição de práticas pedagógicas que supe-
rem a memorização, voltando-se a construção de sentidos,
o que é essencial para o estabelecimento da pertença ao
espaço-tempo partilhado por todos.
Palavras-chave:
Paulo Freire. Hannah Arendt. Pensar. Signi-
ficado. Criticidade.
ARENDT E O SIGNIFICADO DO PENSAR
Hannah Arendt discute o pensar e sua relação com
a possibilidade de evitar o mal a partir da análise do julga-
mento de Eichmann em Jerusalém, em que a autora conclui
que as atrocidades foram cometidas em virtude da recusa
ao pensar. Em
A Vida do Espírito
, ela relata ter se deparado
com uma manifesta superficialidade do agente que tornava
impossível seguir o mal incontestável de seus atos até qual-
quer nível mais profundo de raízes e motivos.
Os atos eram monstruosos, mas o agente era absolu-
tamente vulgar, nem demoníaco nem monstruoso. O que o
caracterizava era a irreflexão. Esta ausência de pensamento
é uma experiência tão vulgar na nossa vida cotidiana, onde
dificilmente temos tempo, para não falar da inclinação para
parar e pensar (ARENDT, 1991a, p. 14-15).
Os crimes de Eichmann não podem ser explicados
por justificativas tradicionais, pois não são motivados por
um demônio – princípio do mal, numa abordagem religiosa,
e também porque não se originam em sentimentos pouco
nobres, como a inveja, a fraqueza, a cobiça ou o ódio que a
pura maldade nutre pelas boas coisas. Ao constatar que as
atrocidades cometidas por Eichmann, que não se apresen-
tava monstruoso, demoníaco nem movido por grandes con-
vicções ideológicas, se fundamentavam na irreflexão, e, ao
perceber a sua superficialidade, Arendt vincula a banalidade
do mal com a falta ou recusa do pensamento.
Critelli (2013, p. 52) relaciona a incapacidade de pen-
sar com as atividades do pensamento e do julgamento. Já a
capacidade de fazer o mal e a apolítica relacionam-se com a