XX FÓRUM DE ESTUDOS: LEITURAS DE PAULO FREIRE
DE 03 A 05 DE MAIO DE 2018, UNISINOS – SÃO LEOPOLDO/RS
1899
EIXO 11 – PAULO FREIRE EM DIÁLOGO COM OUTROS(AS) AUTORES(AS)
sobre os trabalhadores” (GRYNSZPAN, 2007, p.219). Para
Grynszpan e Dezemone (2007, p.217), “foi a partir da dé-
cada de 1940, e sobretudo dos anos 50, que os grupos de
esquerda passaram a deslocar quadros para a atuação no
campo”, provocando “apreensão entre os setores conserva-
dores”. Os autores ainda sublinham a existência de disputas
entre os comunistas e os dirigentes das Ligas em torno do
campesinato, “de acordo com o que cada um dos grupos
considerava ser o estágio de desenvolvimento do Brasil [...]”
(id., p.223).
As Ligas atingiram grande projeção a nível na-
cional sob a liderança de Francisco Julião. A defesa de um
projeto radical de reforma agrária e uma militância em prol
do movimento camponês e agrícola tornaram Julião um
alvo de suma importância da repressão. Após pouco menos
de duas décadas de experiência democrática posteriores ao
Estado Novo (1937-1945) de Getúlio Vargas, o Brasil tem um
novo golpe em 1964. A Ditadura Militar (1964-1985) foi um
dos períodos mais repressivos da história brasileira, com a
perseguição e repressão de diversos grupos políticos de es-
querda, dos movimentos sociais e um grande número de in-
telectuais. Tanto Paulo Freire quanto Francisco Julião foram
presos pela ditadura e depois exilados. Podemos constatar
na pesquisa a presença de Julião nos escritos de Freire no
livro “Aprendendo com a própria história [VI]”, no qual Freire
(2013) conta a história do “golpe do banho morno, para ver
o Julião”. Na prisão, em 1964, Freire conseguiu ver e con-
versar com Julião com a ajuda de um oficial que, ao lhe per-
mitir tomar um banho morno, possibilitou-lhe passar pela
cela de Julião e conversar com ele durante alguns segundos.
Foi nessa ocasião que Freire tomou conhecimento de que o
amigo Julião estava escrevendo o livro “Até quarta, Isabela!”
(JULIÃO, 1986). Freire (2013, s.p.) observou, ao narrar esse
momento, as condições nas quais Julião escreveu o livro
para a filha: “[...] Foi dentro dessa cela terrível que o Julião
escreveu
Até quarta, Isabela
, um livro que era uma carta à
filhinha dele, que ainda não tinha podido ver. Toda a semana
se dizia a ele que, na próxima quarta-feira, ele veria a filha.