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XX FÓRUM DE ESTUDOS: LEITURAS DE PAULO FREIRE

DE 03 A 05 DE MAIO DE 2018, UNISINOS – SÃO LEOPOLDO/RS

1905

EIXO 11 – PAULO FREIRE EM DIÁLOGO COM OUTROS(AS) AUTORES(AS)

ação e a faculdade da vontade. Ser incapaz de pensar não é

o mesmo que ser estúpido ou inabilitado para conhecer, uma

vez que este pode ser traço comum a pessoas muito inteli-

gentes. “A incapacidade de pensar fala do desinteresse ou

da incapacidade de buscar significados, portanto, indica tanto

uma deficiência do pensamento quanto da compreensão”.

Distinguindo pensamento e raciocínio, Arendt (1991a,

p. 69) realça a demanda de sentido como foco do pensar,

que parece “sem sentido” para o senso comum e para o

raciocínio. Por isso, pensar é diferente do raciocínio e da ló-

gica, não tendo nada a ver com a inteligência ou com o uso

das capacidades cognitivas. Arendt constata que pode haver

pessoas muito inteligentes que não pensam.

Em

Pensamento e Considerações Morais

, a pensadora

apresenta as seguintes questões:

Será que fazer o mal, e não somente os males da

omissão, mas também os males da ação, é possível

na ausência não só de “motivos torpes” (conforme

a lei os designa), mas de absolutamente qualquer

motivo, qualquer estímulo especial ao interesse ou

à vontade? Será que a maldade, como quer que

definamos esse “estar determinado a ser um vilão”,

não é uma condição necessária para se fazer o mal?

Será que nossa capacidade de julgar, de distinguir

o certo do errado, o belo do feio, depende de nossa

capacidade de pensar? Serão coincidentes a inca-

pacidade de pensar e um fracasso desastroso da-

quilo a que normalmente chamamos consciência

moral? (ARENDT, 1993, p. 146).

Diante disso, interroga-se: pode a atividade do pen-

samento enquanto tal, o hábito de examinar tudo o que ca-

lha acontecer ou despertar atenção, independentemente de

resultados e do conteúdo específico dessa atividade, estar

entre as condições que fazem com que os homens se abs-

tenham de praticar o mal, ou mesmo que os ‘condicione’

efetivamente contra ele? (ARENDT, 1991, p. 15).

O pensamento é uma saída, um rompimento com o

mundo cotidiano, afastando-se dele para examiná-lo com

distanciamento, o que significa uma parada para pensar.