XX FÓRUM DE ESTUDOS: LEITURAS DE PAULO FREIRE
DE 03 A 05 DE MAIO DE 2018, UNISINOS – SÃO LEOPOLDO/RS
1867
EIXO 11 – PAULO FREIRE EM DIÁLOGO COM OUTROS(AS) AUTORES(AS)
na. Merleau-Ponty dialoga com Marx, possui textos clássi-
cos dessa interlocução, e afirma que não se pode prescin-
dir de Marx, não cabe – porém – na bitola, simplificadores
de alguns marxismos de plantão” (p. 43). Uma diferença
básica entre as leituras refere-se a compreensão da relação
totalidade
.
A perspectiva marxista entende a
totalidade
como o
resultado dinâmico da relação
todo-parte,
onde há ênfase
do macro sobre o micro dialeticamente; aqui a
objetivida-
de
exerce determinações sobre o sujeito. Neste sentido, a
totalidade
, entendida como objeto e categoria sociológica
é vista como a
síntese
dos pólos micro e macros estruturais
que constituem a sociedade burguesa, de base classista e
capitalista.
Na fenomenologia existencial merleaupontyana o
movimento segue o fluxo contrário do marxismo ortodoxo
8
.
Vale dizer que o enfoque fenomenológico existencial dialo-
ga com a perspectiva materialista tecida por Marx, contudo
entende a
totalidade
com ênfase na relação
parte-todo
de
modo integrado
,
onde a
intencionalidade
é corporeidade
encarnada na existência
.
Movimenta-se, desse modo, entre dimensões mi-
cro (interior/subjetividade) e macro (exterior/objetividade)
numa relação mediada pela
hiperdialética
, onde “o ponto de
vista subjetivo envolve o ponto de vista objetivo; a sincro-
nia envolve a diacronia” (MERLEAU-PONTY, 1991, p. 92). A
subjetividade encarnada na realidade e suas possíveis rela-
ções movimenta o conjunto dos sentidos que damos a nos-
sa vida, desde a existência, assumindo os significados que
atribuímos, mas nada determinado.
Assim, a existência objetiva é ponto de encontro entre
objetividade e subjetividade, contraditória e dialeticamente,
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Sobre o assunto, José Paulo Netto (2011), na obra
Introdução ao estudo
do método de Marx
, faz uma discussão interessante sobre as interpretações
equivocadas da obra marxiana, abordagens que sofreram influências de
uma época e de uma tradição filosófica que deram vida a “interpretações
que deformaram, adulteraram e/ou falsificaram a concepção teórico-me-
todológica de Marx” (p. 11).