XX FÓRUM DE ESTUDOS: LEITURAS DE PAULO FREIRE
DE 03 A 05 DE MAIO DE 2018, UNISINOS – SÃO LEOPOLDO/RS
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EIXO 8 – PAULO FREIRE E A FORMAÇÃO DE PROFESSORES(AS)
Eu nasci, cresci e ainda moro em Alvorada. O contex-
to social e cultural da minha família foi delineando a mi-
nha vida. Para a mulher era reservado o casamento, filhos
e uma casa bem cuidada. Fui criada aprendendo todas as
lidas domésticas e muito bem orientada sobre qual o papel
do homem e da mulher, com muitos exemplos e conside-
rações: “Tu é menina, teus irmãos são homens!”, “Por acaso
tu é guri para fazer isso?”. Aos meus dez anos minha mãe,
muito atenta e zelosa, começou a comprar meu enxoval de
casamento: “Quando precisar não precisa correria!”. Aos de-
zesseis anos, com enxoval pronto, me senti completamen-
te preparada e casei. Um choque para a família. Não por
ter casado, porque a idade era boa, mas por casar grávida!
Apesar do susto e da frustração todos acolheram a situação
e deram o apoio e estrutura que podiam. Meu marido doze
anos mais velho, já tinha mais maturidade, trabalho e assim
fomos construindo nossa família. Cinco meses após o casa-
mento nasceu o Fernando, e seis anos mais tarde, agora pla-
nejado, nasceu o Guilherme. Hoje, trinta anos depois, temos
uma história construída juntos. Quando parei para escrever
essa
carta
, fui percebendo quanto tempo se passou e como
tudo foi intenso e construído com muito esforço, foco, e fé
em todas as convicções que temos. Uso o último verbo na
terceira pessoa do plural, por entender que nada se constrói
individualmente, tudo é coletivo, somos seres sociais.
Entre muitas reflexões, me vem meus 10 anos, para ir
à escola eu pegava o ônibus sozinha desde o primeiro dia.
Saia de casa uma hora antes do início das aulas, levava vinte
minutos para chegar, mas não havia outro horário de ôni-
bus. Na volta a mesma coisa, saia da escola as 18h e chegava
as 19h30min em casa. Ir sozinha à escola, percorrendo todo
aquele percurso e chegando em casa à noite, fazia eu me
sentir muito mais adulta do que realmente era. Apesar da
função de deslocamento, do tempo, de fazê-lo sozinha foi
o lugar que mais contribuiu para minha formação de forma
geral. Meus colegas não faziam parte da mesma vivência
social que eu. As diferenças de cultura eram gritantes.