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EIXO 7 – PAULO FREIRE E A EDUCAÇÃO POPULAR (AMBIENTES DIVERSOS)
XX FÓRUM DE ESTUDOS: LEITURAS DE PAULO FREIRE
DE 03 A 05 DE MAIO DE 2018, UNISINOS – SÃO LEOPOLDO/RS
Freire (1983), problematizando sobre a atividade de
alfabetização, retoma, novamente, a questão do mito da
neutralidade da educação, a qual, se tratada meramen-
te mecânica e dissociada da realidade, negará a natureza
política do processo educativo, servindo a um modelo de
abstração do ser humano. Tais pressupostos, para o mesmo
autor, irão provocar as diferenças entre a prática ingênua, a
astuta e, ainda, a crítica. A prática crítica compreende, de
modo articulado, a natureza política do processo educativo
e o caráter educativo do ato político, mas isso não esgota a
compreensão de ambos.
É nesse sentido que a prática política constitui-se a
partir da significação educativa, quando todo partido políti-
co faz-se educador no momento em que sua proposta toma
proporções nos atos de denúncia e anúncio. Do mesmo
modo, o processo educativo não neutro, a serviço da liber-
tação dos seres humanos, constitui-se a partir da compreen-
são crítica da realidade em um dado momento histórico. A
questão fundamental referida por Freire organiza-se em tor-
no de: “[...]
a favor de quem e do que
, portanto
contra quem e
contra o que
, fazemos a educação e de
a favor de quem e do
que
, portanto
contra quem e contra o que
, desenvolvemos a
atividade política” (FREIRE, 1983, p. 27, grifo do autor).
Quanto mais se compreende a relação entre a natu-
reza política do processo educativo e o caráter educativo
do ato político, maior é a percepção da impossibilidade de
separação entre esses. É fundamentado nessas condições
que Freire remete à questão do poder
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, argumentando que
a educação forma relações dinâmicas, contraditórias, e não
mecânicas, com um sistema maior.
A educação, como parte desse sistema maior, está
para além de, simplesmente, reproduzir a ideologia domi-
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Com o intuito de exemplificar a questão do poder, a partir da relação en-
tre a natureza política do processo educativo e o caráter educativo do ato
político, Freire (1983) utiliza o exemplo da classe burguesa, quando afirma
que não foi à própria educação burguesa “[...] que criou ou enformou a
burguesia, mas a burguesia que, chegando ao poder, teve o poder de sis-
tematizar a sua educação” (FREIRE, 1983, p. 27).