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EIXO 14 – PAULO FREIRE: ARTE E CULTURA POPULAR

XX FÓRUM DE ESTUDOS: LEITURAS DE PAULO FREIRE

DE 03 A 05 DE MAIO DE 2018, UNISINOS – SÃO LEOPOLDO/RS

isso não acontecesse, desde a infância, corria-se o risco de

cair em uma “incuriosidade, verdadeira ferrugem da inteli-

gência” (ibid., p. 211).

O que Barbosa dizia no século XIX antecipa a crítica de

Paulo Freire (2006) ao que este chamou de lições de leitura,

que é o oposto às lições da “palavramundo”. Como Freire

deixou subentendido, as lições de leitura se contrapõem às

lições de coisas, estas através das quais ele pôde experimen-

tar, de forma sustentável, a palavramundo, impregnada de

sua cultura infantil e da cultura de seus pais. Freire tam-

bém retomará a crítica do educador baiano ao verbalismo

presente na escola e retomará seu apreço à curiosidade da

criança e à curiosidade humana em geral, como via de pro-

moção à curiosidade científica (FREIRE 1996). Contudo, nada

impede de cogitar que, não apenas o jovem professor Paulo

Freire ou o já maduro e mundialmente conhecido professor

brasileiro serviu-se da generosa contribuição pedagógica de

Rui Barbosa. Quem vai ter argumentos para negar que os

pais de Paulo Freire e a professora Eunice Vasconcelos be-

beram da fonte das lições de coisas? O menino Paulo Freire

talvez com isso tenha ficado livre de passar pelo que acon-

teceu com uma menina norte-americana, conforme anotou

Rui Barbosa (1947: v. X, tomo II, p. 43-44): “perfeitamente

desenvolvida no estudo escolar de geografia e astronomia,

que ficou espantada, um dia, ao saber que o chão do pátio

da casa de sua mãe fazia realmente parte da superfície da

terra”. No Brasil, do século XX, há uma narração a respeito

de um certo professor de ciências que deu uma aula so-

bre fotossíntese. Não foi capaz de identificá-la no fenôme-

no acontecendo ao vivo, através de uma samambaia que se

contorcia perseguindo a luminosidade irradiada através da

janela da sala de aula.

Schelbauer (2005, p. 137) e Silva (2015, p. 211-212)

advertem que, naquele período também havia no Brasil um

campo de disputa em torno do ensino intuitivo, das lições

de coisas. O decreto número 7247 de 1879, de Leôncio de

Carvalho, em seus artigos 4 e 9, parágrafo 1º, prescreveu as