XX FÓRUM DE ESTUDOS: LEITURAS DE PAULO FREIRE
DE 03 A 05 DE MAIO DE 2018, UNISINOS – SÃO LEOPOLDO/RS
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EIXO 11 – PAULO FREIRE EM DIÁLOGO COM OUTROS(AS) AUTORES(AS)
Em uma sociedade estruturalmente desigual, a educa-
ção precisa refletir essa assimetria, proporcionando instru-
mentos reflexivos capazes de empoderar os sujeitos. Nesse
sentido, a educação popular de matriz freireana assume que
a educação é um ato político e que se desdobra em posi-
ções epistemológicas, metodológicas e teóricas articuladas
com a ação transformadora. Em síntese,
o adjetivo “popular” refere-se ao povo e não à elite.
Povo no sentido mais amplo, não tem nada a ver
com as classes dominantes. Quando dizemos povo
não estamos incluindo neste conceito os industriais
e eu não quero dizer que os industriais não fazem
parte de uma outra compreensão do conceito de
povo, de povo de um país. Eu não tenho o poder de
separá-los como eles fazem conosco. Mas de um
ponto de vista sociológico e político, eles obvia-
mente não são povo (FREIRE, 2008, p.74).
Essa educação do povo, entendida como categoria
sociológica, não é um simples treinamento ou capacitação
instrumental, ainda que não possa prescindir disso na luta
concreta pela sobrevivência dentro do sistema. Para Freire,
a educação tem uma finalidade de conscientizar os indiví-
duos, permitindo uma apreensão mais crítica da realidade.
Então, se educar é conscientizar e essa perspectiva as-
sume como ponto de partida a leitura de mundo dos sujei-
tos sociais, logo a educação é uma ferramenta essencial no
processo de emancipação cultural e material das classes po-
pulares. Essa abertura epistemológica tributária de posição
política do campo democrático e popular permite a aproxi-
mação dos espaços de educação não formal com espaços
de educação popular.
Nascida no seio das lutas populares, dos movimen-
tos sindicais, campesinos e das marchas dos Sem (terra,
teto, comida, amor, dos/as reprovados/as3), o movimento
de educação popular associa-se à construção de um outro
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Essa foi a linha de Freire em sua última entrevista em 1997 para a TV
PUCSP, quando fala, entre outras coisas, com entusiasmado das marchas
como “andarilhagens históricas”.