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EIXO 2 – PAULO FREIRE: MEMÓRIA, REGISTRO, IDENTIDADE E ACERVO
XX FÓRUM DE ESTUDOS: LEITURAS DE PAULO FREIRE
DE 03 A 05 DE MAIO DE 2018, UNISINOS – SÃO LEOPOLDO/RS
escrever, tarefa que considera um dever político e irrecusá-
vel a cumprir. Para ele, a escrita não pode ser pensada sepa-
radamente da leitura, devendo, pelo contrário, constituir-se
de leituras e releituras.
Freire relata o hábito de ler e reler criticamente o que
já escreveu, para escrever melhor e sentir-se estimulado e
animado a continuar escrevendo. Segundo ele, para apren-
dermos a escrever, precisamos ler com rigor e avaliar o que
escrevemos: havendo necessidade de melhorar o que foi es-
crito, devemos reescrevê-lo. Esse relato de Freire se aproxi-
ma muito da minha experiência pessoal. Tenho o hábito de
ler e reler muitas vezes o mesmo texto que escrevi, procu-
rando constantemente aprimorá-lo. É uma tarefa que exige
grande dedicação, com a busca constante da melhor escrita,
o que exige também um tempo maior para a construção
do texto. Entretanto, ao ler o resultado final e perceber que
reflete o que sinto e o que procurei escrever, confesso sentir
a alegria e o prazer relatados por Freire.
Seguindo a leitura do livro, percebi que Freire reve-
la-se uma pessoa simples, que se coloca com humildade
diante dos outros e diante da própria vida. Logo na primeira
carta, ele relata que, desde criança, nunca conseguiu aceitar
que a vida se reduzia ao que estava imposto por ela, com
suas injustiças e dificuldades, e que nada poderia ser fei-
to para mudar este cenário. Pelo contrário, revela sempre
pensar que era necessário mudar o que havia de errado no
mundo. Neste ponto, me identifico novamente, pois é cons-
tante em mim o desejo de não aceitar com indiferença o que
nos é imposto.
Freire refere-se em diferentes momentos a uma metá-
fora que sempre gostei, a questão de a educação não poder
ser considerada como um depósito bancário, onde o profes-
sor depositaria o conhecimento no estudante, uma caixa va-
zia esperando para ser preenchida de conhecimento. Penso,
assim como Freire, que o estudante não pode ser visto como
um depósito vazio, desprezando suas experiências pessoais
e cotidianas, tampouco como alguém passivo que apenas