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EIXO 3 – PAULO FREIRE E A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL, TÉCNICA, TECNOLÓGICA E SUPERIOR

XX FÓRUM DE ESTUDOS: LEITURAS DE PAULO FREIRE

DE 03 A 05 DE MAIO DE 2018, UNISINOS – SÃO LEOPOLDO/RS

O sujeito, dotado de dignidade pessoal, não pode ser,

por definição, dobrado ou suprimido em relação a um as-

pecto de sua vida. Não deve, por exemplo, ser apenas aquilo

que pode exibir nas modernas redes sociais, e mais ainda, o

que hoje ocorre com a categorização em algoritmos que re-

fletem (e direcionam) os seus principais interesses. O sujeito

é integral, ele é ser tanto espiritual quanto “carnal”, é tanto

econômico quanto educacional. E nisto consiste, para Mou-

nier a forma que podemos – e devemos – conceber o ser

humano como livre. O sujeito é livre ao se perceber como

único, como ser situacionalmente existente em si próprio. E

isto implica naturalmente em dificuldades inerentes à tensão

que existe em uma sociedade cada vez mais compartimen-

talizada em relação aos conhecimentos e a desigualdade

em relação à distribuição de riquezas. A espontaneidade do

sujeito em si, portanto, definição de sua integralidade única

é sempre e inevitavelmente desafiada, e por este motivo, o

respeito ao sujeito em si passa pela aceitação e até estimulo

comunitário à

capacidade crítica

do sujeito.

A liberdade, portanto também a liberdade de escolha,

por meio da crítica racional é típica do ser humano integral.

Para o Personalismo, cada sujeito tem espontaneidade, por-

tanto, escolhe por si próprio – de fato, outro aspecto cris-

tão: o de livre-arbítrio – e neste sentido tecnologias que não

abrem espaço nem para crítica e mais ainda, direcionam (ou

até obrigam) a determinados conhecimentos, determinadas

escolhas, é tanto opressiva para a comunidade quanto para

o sujeito livre. O ser humano está aí no mundo, mas nem por

isto é definido inteiramente por seu ser histórico, e é dever

tanto individual quanto comunitário fornecer subsídio para

sua autorrealização de forma crítica e livre

4

. Em outras pala-

vras, Mounier propõe acatar uma mudança tanto individual

quanto comunitária em sendo livre e crítica.

Paulo Freire por sua vez viveu em um contexto ainda

mais paradoxal: além da já mencionada tensão ideológica

4

MOUNIER esclarece: “a existência pessoal é sempre disputada entre um

movimento de exteriorização e um movimento de interiorização”. In.

MOUNIER, Emmanuel.

Oeuvres

. Paris: Seuil, 1962. 4 v. p. 468.