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EIXO 2 – PAULO FREIRE: MEMÓRIA, REGISTRO, IDENTIDADE E ACERVO
XX FÓRUM DE ESTUDOS: LEITURAS DE PAULO FREIRE
DE 03 A 05 DE MAIO DE 2018, UNISINOS – SÃO LEOPOLDO/RS
Para que essa dialogicidade na vida humana as-
sociada seja possível, é necessário pressupor que
todos os indivíduos que são agentes nesse diálogo
possam argumentar com o outro em uma relação
de semelhança. A partir dessa visão, com efeito,
seja numa relação professor-aluno, seja em outros
ambientes organizacionais, pessoas em posições
hierárquicas superiores e inferiores devem ater-se
uns aos outros enquanto semelhantes, respeitando
as suas diferenças e o mútuo direito à argumenta-
ção (LOVISON; CAMARA, 2008, p.10)
Em outras palavras, os autores defenderam que, na
medida em que os fundamentos da pedagogia freireana
fossem trazidos para o ambiente organizacional, os sujei-
tos passariam a estimar os seus semelhantes e a praticar o
respeito mútuo, independente das diferenças de papéis e
responsabilidades.
Paes de Paula e Maranhão (2009) também recorreram
à pedagogia freireana para discutir a questão da opressão e
da resistência nos EOs. O argumento foi: “a opressão é um
fenômeno coletivo, portanto, quando se busca um proje-
to emancipatório mais amplo, a resistência também precisa
ser empreendida como uma ação coletiva” (PAES DE PAULA,
2009, p. 464). As autoras ressaltaram que a teoria de Paulo
Freire constitui-se num valioso referencial para os estudio-
sos críticos das organizações, seja para analisar ou para fo-
mentar as ações coletivas. Essa visão rejeita a micro- eman-
cipação como alternativa à dominação, pois as micro-ações
levam os sujeitos a criarem suas regras, mas ainda subme-
tendo-se à ordem hegemônica.
Sob uma leitura freireana, essas micro-emancipa-
ções não passam de atitudes astutas, em que o
sujeito se traveste de uma roupagem de mudança,
mas alimenta as raízes da mesma estrutura que o
corrompe. Sob o desenvolvimento de uma atitude
astuta, o sujeito se distancia da possibilidade de
crítica. O astuto não acredita na mudança coletiva
e, por isso mesmo, na possibilidade de instituição
de formas não instrumentais de vida humana. Ele
busca, assim, refúgios em que ele possa “respirar”