XX FÓRUM DE ESTUDOS: LEITURAS DE PAULO FREIRE
DE 03 A 05 DE MAIO DE 2018, UNISINOS – SÃO LEOPOLDO/RS
1819
EIXO 11 – PAULO FREIRE EM DIÁLOGO COM OUTROS(AS) AUTORES(AS)
Na fiação, o aprendiz se vê diante da matéria bruta.
Seu trabalho se realiza diretamente entre o corpo
e o material: fibras naturais, cardas e fusos. Porém,
diferentemente de outros materiais que também
colocam o corpo-aprendiz em contato com a ma-
téria bruta, a fiação não se presta à representação,
à figuração. Na fiação, não há como modelar uma
forma figurada ou fazer um desenho riscado, como
se faz, por exemplo, com argila ou pedra. O que se
apresenta em um fio é o movimento do corpo do
aprendiz, sua habilidade, sua plasticidade em ação,
nada mais. Poderia dizer que a fiação desnuda o
artífice e torna visível, materialmente, o corpo-faze-
dor (VEIGA, 2015, p.140).
De modo articulado e entrelaçado, nas duas obras
produzidas por Freitas: Pedagogia da Conscientização, um
legado de Paulo Freire à formação de professores (2001) e
Leituras de Paulo Freire, uma trilogia de referência (2014),
publicadas pelas editoras EDIPUCRS e MÉRITOS, respectiva-
mente, a autora coloca a matéria bruta sempre diante dos
leitores e leitoras – a obra freireana, como ela é e como está
sendo. Com fazeres de corpo inteiro (inteireza) e sua voz
escrita, Freitas também se vê diante do tamanho da obra.
Percebe as linhas que Freire compartilha, as fibras de cada
uma, as cardas e o fuso com que trabalha. E como sempre
aprendiz, não toma a matéria como uma representação ou
figuração para produzir a sua, mas com um cuidado irre-
preensível, movimenta-se em corporeidade e voz, desfiando
essa escrita-matéria, desvelando sua plasticidade, colocan-
do-a em mais ação ainda, desnudando o artífice da palavra
freireana. Nesse exercício reflexivo, percebe-se a implicação
da autora com a obra freireana e a intensidade com que vive
esse pensamento em seus processos de produção científica
e de vida, como um todo.
O
olhar de partilha
(Guedes Trindade, 2018, no prelo),
trata da busca de um olhar que, ao reconhecer o valor de
um trabalho, deseja partilhar, imediatamente, com outras e
outros, os achados, como um movimento genuíno de
alegria
cultural
(Snyders, 1988), de quem investiga para repartir e