XX FÓRUM DE ESTUDOS: LEITURAS DE PAULO FREIRE
DE 03 A 05 DE MAIO DE 2018, UNISINOS – SÃO LEOPOLDO/RS
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EIXO 11 – PAULO FREIRE EM DIÁLOGO COM OUTROS(AS) AUTORES(AS)
Tormento ideal
Conheci a Beleza que não morre
E fiquei triste. Como quem da serra
Mais alta que haja, olhando aos pés a terra
E o mar, vê tudo, a maior nau ou torre,
Minguar, fundir-se, sob a luz que jorre;
Assim eu vi o Mundo e o que ele encerra
Perder a cor, bem como a nuvem que erra
Ao pôr-do-sol e sobre o mar discorre.
Pedindo à forma, em vão, a ideia pura,
Tropeço, em sombras, na matéria dura,
E encontro a imperfeição de quanto existe.
Recebi o batismo dos poetas,
E, assentado entre as formas incompletas
Para sempre fiquei pálido e triste.
O título do poema sugere que o assunto a ser trata-
do será algo que atormenta o eu lírico. Entretanto, o uso
da palavra ideal, que indica algo perfeito, impecável, parece
não combinar com o tormento, o que pode incitar o aluno
a iniciar a leitura para ver do que se trata. Mesmo o Realis-
mo caracterizando-se pela impessoalidade e objetividade,
conforme mencionamos, o eu lírico demonstra sentimentos
pessoais como a tristeza. Entretanto, a aceitação da realida-
de, o pessimismo e o cuidado com a forma estão presentes
no texto, conforme veremos a seguir.
Quanto à estrutura, o poema assume a forma de sone-
to, o que pode possibilitar a organização mental, conforme
defendido por Ramos (2013). Neste soneto, inicialmente, o
eu poético afirma ter encontrado a beleza que não morre,
mas ficou triste, em vez de ficar feliz. Assim, como no títu-
lo, o texto já começa com palavras de campos semânticos
que parecem indicar oposição. Em seguida, ele explica que
depois de conhecer tal beleza, o resto do mundo perdeu a