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VI SIMPÓSIO INTERNACIONAL DESIGUALDADES, DIREITOS E POLÍTICAS PÚBLICAS:
GÊNERO, INTERSECCIONALIDADES E JUSTIÇA
SÃO LEOPOLDO-RS – UNISINOS, 27 A 29 DE NOVEMBRO DE 2018
GT3: GÊNERO, RAÇA E TRABALHO
pectro político. Assim, abordamos os marcadores
de gênero no mundo do trabalho, que no caso de
Nise foram subvertidos numa instituição conserva-
dora, como o hospital psiquiátrico.
Os papeis de gênero rígida e binariamen-
te divididos foram frequentemente motivos pelos
quais o trabalho desempenhado por mulheres era
desvalorizado ou não ganhava destaque, não só
em se tratando de serviços relacionados à saúde,
mas também a outros tipos de atividades. Mais do
que isso, além da desvalorização da mulher no
trabalho, a análise debruça-se sobre a associa-
ção historicamente construída da mulher como
“tresloucada”, irracional, emocional, a ponto de
consolidar uma árdua herança acerca da domi-
nação do desejo do homem, o que faz com que
até hoje a mulher seja definida por sua sexualida-
de, e o homem, “nobremente”, por seu trabalho
(MURARO, 1991).
O filme relata as relações hierárquicas pre-
sentes no hospital, tanto na distinção de trabalho
entre os diferentes profissionais, como ainda con-
torna uma desigualdade de gênero, tendo por
base o não reconhecimento do trabalho da Nise.
Em se tratando da constituição de hierarquias, elas
devem ser vistas, neste recorte empírico, alicerça-
das pelas formas de legitimação do poder através
das relações de gênero e de instâncias acerca do
domínio da ciência. O discurso revestido de auto-
ritarismo, que como no filme, limita a ação da pro-
tagonista e reprime suas inovações, provocando
uma ditadura disciplinadora, que se estabelece
através das entrelinhas dos discursos.
Esse fenômeno da desigualdade de gênero
contra a mulher “atravessa todas as relações so-
ciais, transforma-se em algo objetivo, traduzindo-