XX FÓRUM DE ESTUDOS: LEITURAS DE PAULO FREIRE
DE 03 A 05 DE MAIO DE 2018, UNISINOS – SÃO LEOPOLDO/RS
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EIXO 15 – PAULO FREIRE E AS INFÂNCIAS
tem acesso em casa, que são para ele uma novidade. A fa-
mília de Santiago valoriza a educação (sua mãe quer que ele
tenha mais condições de estudo do que ela teve), mas San-
tiago vai à escola especialmente porque a mãe não tem com
quem deixá-lo durante o dia (o filho mais velho frequenta o
ensino médio de uma escola estadual e não poderia cuidar
do irmão, porque faz estágio em uma empresa privada no
contraturno). A vaga conquistada na Educação Infantil foi
muito concorrida e festejada, pois antes Santiago precisava
acompanhar a mãe em seu trabalho e nem todas as empre-
gadoras se agradavam disso.
Para tantos Santiagos no mundo que a escola precisa
ser acolhedora e estimuladora desde cedo. Se mães como a
dele são a maioria, as que prezam por uma vida escolar de
sucesso de seus filhos, melhores do que as suas próprias,
mas não podem dedicar tempo ou instrução em ajudá-los,
Paulo Freire nos diz que a escola e o educador preocupados,
não alheios a suas realidades, são improteláveis. Também
para Santiago disserta Freire ao afirmar que (1996, p. 35):
“O meu respeito de professor à pessoa do edu-
cando, à sua curiosidade, à sua timidez, que não
devo agravar com procedimentos inibidores exige
de mim o cultivo da humildade e da tolerância.
Como posso respeitar a curiosidade do educando
se, carente de humildade e da real compreensão
do papel da ignorância na busca do saber, temo
revelar o meu desconhecimento? Como ser educa-
dor, sobretudo numa perspectiva progressista, sem
aprender, com maior ou menor esforço, a convi-
ver com os diferentes? Como ser educador, se não
desenvolvo em mim a indispensável amorosidade
aos educandos com quem me comprometo e ao
próprio processo formador de que sou parte? Não
posso desgostar do que faço sob pena de não fa-
zê-lo bem. Desrespeitado como gente no desprezo
a que é relegada a prática pedagógica não tenho
por que desamá -la e aos educandos. Não tenho
por que exercê-la mal. A minha resposta à ofensa à
educação é a luta política consciente, crítica e orga-
nizada contra os ofensores. Aceito até abandoná-la,
cansado, à procura de melhores dias. O que não é