Table of Contents Table of Contents
Previous Page  2335 / 2428 Next Page
Information
Show Menu
Previous Page 2335 / 2428 Next Page
Page Background

XX FÓRUM DE ESTUDOS: LEITURAS DE PAULO FREIRE

DE 03 A 05 DE MAIO DE 2018, UNISINOS – SÃO LEOPOLDO/RS

2335

EIXO 15 – PAULO FREIRE E AS INFÂNCIAS

tem acesso em casa, que são para ele uma novidade. A fa-

mília de Santiago valoriza a educação (sua mãe quer que ele

tenha mais condições de estudo do que ela teve), mas San-

tiago vai à escola especialmente porque a mãe não tem com

quem deixá-lo durante o dia (o filho mais velho frequenta o

ensino médio de uma escola estadual e não poderia cuidar

do irmão, porque faz estágio em uma empresa privada no

contraturno). A vaga conquistada na Educação Infantil foi

muito concorrida e festejada, pois antes Santiago precisava

acompanhar a mãe em seu trabalho e nem todas as empre-

gadoras se agradavam disso.

Para tantos Santiagos no mundo que a escola precisa

ser acolhedora e estimuladora desde cedo. Se mães como a

dele são a maioria, as que prezam por uma vida escolar de

sucesso de seus filhos, melhores do que as suas próprias,

mas não podem dedicar tempo ou instrução em ajudá-los,

Paulo Freire nos diz que a escola e o educador preocupados,

não alheios a suas realidades, são improteláveis. Também

para Santiago disserta Freire ao afirmar que (1996, p. 35):

“O meu respeito de professor à pessoa do edu-

cando, à sua curiosidade, à sua timidez, que não

devo agravar com procedimentos inibidores exige

de mim o cultivo da humildade e da tolerância.

Como posso respeitar a curiosidade do educando

se, carente de humildade e da real compreensão

do papel da ignorância na busca do saber, temo

revelar o meu desconhecimento? Como ser educa-

dor, sobretudo numa perspectiva progressista, sem

aprender, com maior ou menor esforço, a convi-

ver com os diferentes? Como ser educador, se não

desenvolvo em mim a indispensável amorosidade

aos educandos com quem me comprometo e ao

próprio processo formador de que sou parte? Não

posso desgostar do que faço sob pena de não fa-

zê-lo bem. Desrespeitado como gente no desprezo

a que é relegada a prática pedagógica não tenho

por que desamá -la e aos educandos. Não tenho

por que exercê-la mal. A minha resposta à ofensa à

educação é a luta política consciente, crítica e orga-

nizada contra os ofensores. Aceito até abandoná-la,

cansado, à procura de melhores dias. O que não é