XX FÓRUM DE ESTUDOS: LEITURAS DE PAULO FREIRE
DE 03 A 05 DE MAIO DE 2018, UNISINOS – SÃO LEOPOLDO/RS
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EIXO 15 – PAULO FREIRE E AS INFÂNCIAS
à Nathercia, após a primavera de 2012, agradecida, emocio-
nada por trazer tantas memórias, em especial uma, que foi
a lembrança de Nathercia, que disse: “Um dia, Paulo sumiu”.
Escreve Madalena Freire:
(...)Esse foi, sim, um dia traumático, de muita tensão.
Tia Stela, irmã de meu pai, foi à Urca, para se des-
pedir. Todos estavam reunidos na sala numa tensão
que se podia cortar com a faca! Eu vim do recife
para o Rio de Janeiro, para ficar na casa de minha
tia, em Campos dos Goitacazes, pois, como eu havia
participado da campanha de alfabetização em an-
gicos e no recife, também estava sendo procurada.
Minha mãe me botou no avião e me mandou para
a casa do Tutu e da Nathercia.Num fim de tarde,
meu pai saiu com alguém – não lembro quem era –
direto para a embaixada da Bolívia. Da casa da Urca,
portanto, ele foi para um território não mais brasi-
leiro, apesar de estar em terras do Brasil. Aquele foi
o último dia em que Stela o viu (…) ( 2016, p.83).
Assim, esses primeiros olhares vão se encerrando, pro-
visoriamente, como uma dor e como um chamego, de quem
leu, com muita emoção essas correspondências de um ho-
mem que viveu e vive entre nós, toda a vez que pensamos
liberdade, autonomia, reflexão crítica, amorosidade, defesa
da vida, e que precisou sair de sua terra porque havia sonha-
do e construído um modo radical, real e contextualizada-
mente política de alfabetizar os milhões de pessoas que não
sabiam ler e escrever – porque as ditaduras, de quaisquer
ordens, amordaçam a palavra, o sentir, o corpo, a expres-
são, as liberdades, o viver e enquanto não vão banindo os
sonhos, os inéditos possíveis, os pensamentos críticos, não
sossegam. Como um chamego em Freire, vamos finalizan-
do esse pouso-pausa sobre as cartas, agradecidas, por ler
tanta ternura escrita dedicada a uma criança, que foi o mes-
mo respeito que demonstrou sempre pelas suas crianças de
casa - seus filhos - e pelas crianças brasileiras, pensando,
para elas, uma Educação que defendesse as suas vidas, li-
berdades, dignidades, infâncias.