Table of Contents Table of Contents
Previous Page  2181 / 2428 Next Page
Information
Show Menu
Previous Page 2181 / 2428 Next Page
Page Background

XX FÓRUM DE ESTUDOS: LEITURAS DE PAULO FREIRE

DE 03 A 05 DE MAIO DE 2018, UNISINOS – SÃO LEOPOLDO/RS

2181

EIXO 13 – PAULO FREIRE: EDUCAÇÃO, SAÚDE E CIDADANIA

carecia de um ato radical, logo, a não aceitação do espa-

ço sugerido, inicialmente, foi uma forma de dizer que esta

“terra”, ou esta “realidade” não serve, não pode ser fértil,

não pode ser boa. Este contexto nos remete ao que Freire

escreve em

Pedagogia da indignação

. Nas suas palavras: “A

ecologia ganha uma importância fundamental neste fim de

século. (...) Não é possível refazer este país, democratizá-lo,

humanizá-lo, torná-la sério, com adolescentes brincando de

matar gente, ofendendo a vida, destruindo o sonho, in-via-

bilizando o amor” (FREIRE, 2000, p. 67).

A preocupação da educadora é legítima e freiriana.

As crianças e adolescentes contavam histórias de vidas que

foram violentadas como se fossem simples anedotas, com

uma naturalidade assustadora. Uma realidade que neces-

sariamente precisa ser estranhada para viabilizar o afeto e

o cuidado consigo mesmos, com os legítimos “outros” das

suas convivências e com os ambientes familiares e comuni-

tários. Assim, enquanto não se tinha a terra, foram sendo

providenciados outras maneiras para persistir os objetivos

propostos. Os bancos ganharam novas cores, placas que ex-

pressavam otimismo, esperança, cuidado e afeto foram con-

feccionadas. Uma composteira foi providenciada e causou

movimentação no grupo.

Na continuidade do processo de trabalho, o grupo

percebeu que uma vizinha estava fazendo uma reforma.

Conversaram com ela acerca da possibilidade de serem doa-

dos os resíduos da reforma. A vizinha fez doações para além

do solicitado. Podemos dizer que a condição humana, para

Freire, está alicerçada nos princípios da incompletude, da in-

conclusão e do inacabamento. Esses princípios nos colocam,

como seres humanos, numa relação de interdependência,

ou seja, instaura a lógica da solidariedade. Ensinar e apren-

der que a solidariedade pode ser provocada no outro foi o

propósito desta vivência.

Simbolicamente a luta pela terra tornou-se um dos de-

safios centrais da prática pedagógica. A terra representava

a possibilidade concreta para que o grupo pudesse plantar