XX FÓRUM DE ESTUDOS: LEITURAS DE PAULO FREIRE
DE 03 A 05 DE MAIO DE 2018, UNISINOS – SÃO LEOPOLDO/RS
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EIXO 13 – PAULO FREIRE: EDUCAÇÃO, SAÚDE E CIDADANIA
carecia de um ato radical, logo, a não aceitação do espa-
ço sugerido, inicialmente, foi uma forma de dizer que esta
“terra”, ou esta “realidade” não serve, não pode ser fértil,
não pode ser boa. Este contexto nos remete ao que Freire
escreve em
Pedagogia da indignação
. Nas suas palavras: “A
ecologia ganha uma importância fundamental neste fim de
século. (...) Não é possível refazer este país, democratizá-lo,
humanizá-lo, torná-la sério, com adolescentes brincando de
matar gente, ofendendo a vida, destruindo o sonho, in-via-
bilizando o amor” (FREIRE, 2000, p. 67).
A preocupação da educadora é legítima e freiriana.
As crianças e adolescentes contavam histórias de vidas que
foram violentadas como se fossem simples anedotas, com
uma naturalidade assustadora. Uma realidade que neces-
sariamente precisa ser estranhada para viabilizar o afeto e
o cuidado consigo mesmos, com os legítimos “outros” das
suas convivências e com os ambientes familiares e comuni-
tários. Assim, enquanto não se tinha a terra, foram sendo
providenciados outras maneiras para persistir os objetivos
propostos. Os bancos ganharam novas cores, placas que ex-
pressavam otimismo, esperança, cuidado e afeto foram con-
feccionadas. Uma composteira foi providenciada e causou
movimentação no grupo.
Na continuidade do processo de trabalho, o grupo
percebeu que uma vizinha estava fazendo uma reforma.
Conversaram com ela acerca da possibilidade de serem doa-
dos os resíduos da reforma. A vizinha fez doações para além
do solicitado. Podemos dizer que a condição humana, para
Freire, está alicerçada nos princípios da incompletude, da in-
conclusão e do inacabamento. Esses princípios nos colocam,
como seres humanos, numa relação de interdependência,
ou seja, instaura a lógica da solidariedade. Ensinar e apren-
der que a solidariedade pode ser provocada no outro foi o
propósito desta vivência.
Simbolicamente a luta pela terra tornou-se um dos de-
safios centrais da prática pedagógica. A terra representava
a possibilidade concreta para que o grupo pudesse plantar