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VI SIMPÓSIO INTERNACIONAL DESIGUALDADES, DIREITOS E POLÍTICAS PÚBLICAS:
GÊNERO, INTERSECCIONALIDADES E JUSTIÇA
SÃO LEOPOLDO-RS – UNISINOS, 27 A 29 DE NOVEMBRO DE 2018
GT1: DINÂMICAS DE GÊNERO E ESTUDOS FEMINISTAS EM CONTEXTOS AFRICANOS E AFRO-BRASILEIROS
tal fato. Neste trabalho, delimita-se o objeto de
estudo das representações sociais em relação ao
aparato estatal policial diante da sua relevância
para a construção social do crime. É possível quali-
ficar as representações sociais do aparato policial
como representações hegemônicas nos termos
de Moscovici (1988), visto que a corporação po-
licial é um grupo altamente estruturado e, ainda,
as suas representações sociais possuem um efeito
na prática. Neste trabalho, questiona-se: como as
representações sociais da violência letal contra
a mulher presentes no aparato policial serão arti-
culadas no momento de interpretar um homicídio
como feminicídio diante da motivação explícita
de violência de gênero que o tipo penal prevê?
Utiliza-se a teoria de gênero proposta por
Raewyn Connell (1987) em que o gênero é cons-
truído através de quatro formas: a) as relações de
poder, que ocorrem pela divisão da autoridade;
b) as relações de produção, constituídas pela divi-
são sexual do trabalho; c) a
cathexis
, que a autora
define como o desejo sexual socialmente construí-
do na forma heterossexual, sendo a forma como
as pessoas criam relações de afeto entre si; e d)
os símbolos culturais relacionados ao gênero. As
relações identificadas por Connell produzem dife-
rentes formas de violência e são simbolizadas de
diferentes formas. Propõe-se, com isso, que serão
identificadas relações de poder e relações de afe-
to entre a vítima e o réu para interpretar a morte
de uma mulher na narrativa jurídica específica do
feminicídio. Acredita-se que os atores envolvidos
nessa classificação representam socialmente a
violência em duas principais formas: a violência
como meio para retomar ou vingar uma relação
que não ocorreu como o homem planejava, sen-