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VI SIMPÓSIO INTERNACIONAL DESIGUALDADES, DIREITOS E POLÍTICAS PÚBLICAS:
GÊNERO, INTERSECCIONALIDADES E JUSTIÇA
SÃO LEOPOLDO-RS – UNISINOS, 27 A 29 DE NOVEMBRO DE 2018
GT1: DINÂMICAS DE GÊNERO E ESTUDOS FEMINISTAS EM CONTEXTOS AFRICANOS E AFRO-BRASILEIROS
públicas é vista de forma fragmentada. No Brasil
são escassos os estudos que relacionem estas ca-
tegorias. As relações raciais que aqui se colocam
ainda negam os privilégios da população branca,
especialmente quando há necessidade que ou-
tras categorias de estudo se relacionem.
Assim, há dificuldade de relacionar os estu-
dos de raça e gênero quando só são analisados os
índices por apenas uma destas categorias. Con-
tudo, quando analisadas as estatísticas de aces-
so aos direitos básicos ou índices de violência, é
possível perceber que o vínculo de gênero e raça
modificam os resultados finais. O Mapa da Violên-
cia de 2015 - Homicídio de Mulheres, por exemplo,
mostra que há um pico de incidência no assassi-
nato de mulheres entre 18 e 30 anos, e que, por
sua vez, as mulheres negras são as principais víti-
mas desta violência, em números abismais. Segun-
do este mesmo documento, enquanto o índice de
homicídios de mulheres brancas teve uma queda
de 9,8% entre 2003 e 2013, totalizando 1.576 assas-
sinatos no último ano, o índice de homicídios de
mulheres negras no mesmo período subiu 54,2%,
totalizando 2.875 vítimas em 2013. Ou seja, quase
o dobro de vítimas de mulheres brancas.
Cabe aqui citar o episódio recente do as-
sassinato da liderança Marielle Franco, mulher ne-
gra, lésbica, favelada e vereadora do PSOL (RJ),
mostrando que mesmo quando uma mulher negra
ocupa um lugar considerado de “prestígio e visi-
bilidade” na sociedade, essas características não
fazem dela uma pessoa de poder, porque ainda
carrega em si os marcadores de quem não pode
falar e, portanto, perspectivas violentas de futuro.
Dados que também podem nos auxiliar a re-
fletir sobre este abismo de desigualdade entre mu-