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VI SIMPÓSIO INTERNACIONAL DESIGUALDADES, DIREITOS E POLÍTICAS PÚBLICAS:
GÊNERO, INTERSECCIONALIDADES E JUSTIÇA
SÃO LEOPOLDO-RS – UNISINOS, 27 A 29 DE NOVEMBRO DE 2018
GT3:
GÊNERO, RAÇA E TRABALHO
e sobretudo, pessoas” (GALLÓIS, 2007, p. 95). O
qualificativo
tradicional
insere-se na constatação
de que essa comunidade “se tornou legítima atra-
vés de um trabalho coletivo de socialização da
natureza”. (BRANDÃO, BORGES, 2014, p. 10). De lu-
gar inóspito e rústico, do passado ao presente, vi-
ce-versa, esse espaço onde a “natureza” germina
e brota com certa facilidade tornou-se ambiente
socializado pelos usos e sentidos despendidos do
coletivo ao mobilizar os recursos que lhes são pro-
venientes (matérias-primas, paisagens, alimentos/
comidas) pelo trabalho e intencionalidade da co-
munidade em questão. Seja para viabilizar laços
recíprocos inerentes ao grupo, e também mediar
relações exógenas através da troca de presentes e
bens simbólicos, estes em circulação nummercado
com algum grau de organização e periodicidade,
o resultado do trabalho dos integrantes da comu-
nidade tradicional na maioria das vezes manifesta-
-se como vitrine desta relação com a natureza que
acabara se perpetuando numa escala duradoura
de tempo. Por sinal, neste emaranhado de pessoas,
coisas e ambientes, a ação é vista como impac-
tada pelos vínculos recíprocos da interação entre
humanos e não-humanos, como destacou Latour
(2012). Nesse entendimento, o movimento analítico
reverbera na maneira de como “os objetos alteram
seu modo de existência” (idem, p. 121), seja nos
registros de poder e dominação enredados nes-
ta nova espécie de agregados sociais ampliados
pelos efeitos dos objetos que fazem agir, seja na
constatação de que “organizamos” o mundo ao
nosso redor para o dispor nos modos de agir sobre
nós mesmos e sobre os outros. Portanto, todo curso
da ação delineará uma trajetória “em meio a mo-
dos de existência completamente estranhos, arre-