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VI SIMPÓSIO INTERNACIONAL DESIGUALDADES, DIREITOS E POLÍTICAS PÚBLICAS:
GÊNERO, INTERSECCIONALIDADES E JUSTIÇA
SÃO LEOPOLDO-RS – UNISINOS, 27 A 29 DE NOVEMBRO DE 2018
GT3:
GÊNERO, RAÇA E TRABALHO
do, então, como se daria a estruturação das mas-
culinidades desses sujeitos em uma realidade de
empregos intermitentes e de marginalidade eco-
nômica a longo prazo (ibid
.,
p. 94).
Ao encontro dessa ideia, Bourgois, quan-
do analisa a realidade dos jovens vendedores de
crack no Harlem emNova York no início da década
de 90, também enfatiza os conflitos decorrentes do
choque entre as mudanças nas relações de poder
entre homens e mulheres com a personalidade de
sujeitos forjada na valorização do trabalho mascu-
lino pelo uso da força (2003). Assim, na medida em
que o contexto analisado pauta altos níveis de de-
semprego e de marginalização social, esses jovens
restam em um conflito permanente: como construir
a sua própria masculinidade sem fazer uso de um
trabalho operário e com poucas oportunidades
para se manter como garantidor da renda familiar?
A resposta que alguns desses jovens encontram, no
contexto da pesquisa de Bourgois e também, ao
que parece, no Brasil urbano a partir do início do
século, é o tráfico de drogas.
Conforme aponta Hooks, a ideia de se tornar
um “empreendedor da droga”, no que diz respeito
à realidade dos homens negros norte-americanos
a partir da década de 70, se encaixa no “ethos da
ganância”que passou a vigorar a partir desse mo-
mento em toda a sociedade (Hooks, 2004, p. 16).
Se para esses homens o trabalho nunca foi o lugar
onde eles poderiam afirmar a sua masculinidade
patriarcal, a autoidentificação como “gangster” e
as possibilidades financeiras daí decorrentes apre-
sentavam um novo quadro a esses jovens negros,
em que “a masculinidade patriarcal era a teoria e
a cultura de gangues era sua prática final” (Hooks,
2004, p. 25).