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VI SIMPÓSIO INTERNACIONAL DESIGUALDADES, DIREITOS E POLÍTICAS PÚBLICAS:
GÊNERO, INTERSECCIONALIDADES E JUSTIÇA
SÃO LEOPOLDO-RS – UNISINOS, 27 A 29 DE NOVEMBRO DE 2018
GT2: MULHERES NEGRAS RESISTEM: ANÁLISES SOBRE PROTAGONISMOS FEMININOS E NEGROS NO CONTEXTO LATINO-AMERICANO
que no que concernente a esse último, mudanças
estejam ocorrendo. A lésbica negra não é tão so-
mente invisível, ele não existe. Nosso discurso não
é ouvido. Nós falamos como loucos (LORDE, 1984).
Ao aceitar e reivindicar uma identidade negra
lésbica, culturalmente desprezada, foi necessário
reconhecer o que significa ser uma mulher negra
e acadêmica de Direito e agora, mestranda em
Educação. Significa ser invisível duplamente. Estu-
dando gênero e sexualidade, percebi a impossibi-
lidade de dissociar essas categorias de análise de
raça e classe, em razão de elas estarem imbrica-
das, possuírem significados historicamente contin-
gentes e demonstrarem a natureza multiplicativa
da intersecção das opressões, compreendi que o
sexismo e o heterossexismo originam-se do racismo
e que eu, e nós enquanto sociedade temos res-
ponsabilidade de quebrar o ciclo de silêncio, apa-
gamento e invisibilidade propagada sobretudo
pela academia, que em debates acerca de femi-
nismo, gênero e sexualidade, não explora nossas
várias diferenças, sem um prisma significativo das
mulheres negras, pobres e lésbicas
.
É urgente que
quebremos o silêncio, pois é nele que cada uma
de nós recua o olhar dos seus próprios temores, da
repressão, da censura, da indiferença, do julga-
mento, ou do reconhecimento, da provocação,
da aniquilação. E essa vulnerabilidade que nos
traz a visibilidade, deve ser também a origem da
nossa força, porque tenhamos falado ou não, o
engenho vai tratar de nos confranger de qualquer
forma. Audre Lorde já dizia em 1984, que é o silên-
cio que nos imobiliza e não as nossas diferenças. E
ainda temos muitos silêncios para romper. O pre-
sente trabalho visa compreender as trajetórias das
professoras negras lésbicas, como os processos de