1982
EIXO 11 – PAULO FREIRE EM DIÁLOGO COM OUTROS(AS) AUTORES(AS)
XX FÓRUM DE ESTUDOS: LEITURAS DE PAULO FREIRE
DE 03 A 05 DE MAIO DE 2018, UNISINOS – SÃO LEOPOLDO/RS
que saem do pássaro (natureza) e são transformadas pelo
trabalho (cultura).
Freire já havia dito, que o homem:
Descobre que, ao prolongar os seus braços 5 a 10
metros, por meio do instrumento criado, por causa
do qual já não necessita apanhar sua presa com as
mãos, o homem fez cultura. Ao transferir não só o
uso do instrumento, que funcionalizou, mas a in-
cipiente tecnologia de sua fabricação, às gerações
mais jovens, fez educação. (FREIRE, 2005, p. 136).
Chegamos, então, à pergunta que me motiva escrever
esta carta: Rabardel, ao falar de instrumentalização, estará
falando do homem que prolonga o braço com o instrumen-
to que criou, o barro, a pena, que foram selecionados, agru-
pados, modificados, produzindo funções, enfim foram en-
riquecidos, tornando-se tijolo, enfeite, arco e flecha, como
observa Freire, ou ainda, em Vieira Pinto (2005, p. 136) “A
máquina parada não reflete seu potencial, no entanto, ao
trabalhar ela se converte em instrumento de modificação do
mundo e, como tal, passa a desempenhar um papel ativo no
mundo”?
Não basta então ao sujeito transferir apenas o uso do
instrumento, que funcionalizou (Freire, 2005), mas a rela-
ção que ele tem com os processos, à qual Rabardel, deno-
mina instrumentação, pois são os processos relativos aos
sujeitos, quanto “à emergência e à evolução dos esquemas
de utilização e de ação instrumental: sua constituição, sua
evolução para acomodação, coordenação e assimilação re-
cíproca, a assimilação dos produtos novos aos esquemas
já constituídos etc.” (RABARDEL, 1995, p. 11, Tradução livre,
João Monlevade).
Não basta a construção do artefato, esse deve se
constituir em um instrumento a partir da apropriação pelo
sujeito, em uma situação de uso, por meio de uma ação, que
podemos denominar trabalho.
Em Rabardel, os sujeitos, ao transformarem os arte-
fatos em instrumentos, ao mesmo tempo se transformam;