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VI SIMPÓSIO INTERNACIONAL DESIGUALDADES, DIREITOS E POLÍTICAS PÚBLICAS:

GÊNERO, INTERSECCIONALIDADES E JUSTIÇA

SÃO LEOPOLDO-RS – UNISINOS, 27 A 29 DE NOVEMBRO DE 2018

GT4: DIREITOS SEXUAIS E DIREITOS REPRODUTIVOS

assistência pré-natal a mulheres negras. Um dos

casos emblemáticos foi o caso Alyne

2

. O caso Aly-

ne foi denunciado por ativistas negras ao Comitê

pela Eliminação de Todas as Formas de Discrimina-

ção contra a Mulher (Comitê CEDAW) das Nações

Unidas. No dia 10 de agosto de 2011, o Brasil foi

condenado e o Comitê em sua decisão apontou

que Alyne morreu vitimada pela falta de acesso

ao tratamento de emergência obstétrica ade-

quada e de qualidade, concluindo que houve dis-

criminação sistemática pela sua cor e condição

social. O Brasil foi condenado a restituir financeira-

mente a família de Alyne, além de cumprir metas

de redução e melhor assistência.

Logo, considera-se que o MMN tem impor-

tante papel no estabelecimento de direitos se-

xuais e reprodutivos no Brasil. As pautas das entida-

des que compõem esse movimento ultrapassam

seu foco nas mulheres negras e ampliam direitos

para toda a população/sociedade. Também,

se destaca que a discussão e reivindicações do

MMN focam-se na questão do corpo, este como

lócus de resistência política, além de colocar em

cena, principalmente no debate sobre políticas

públicas, o reconhecimento do racismo como de-

2 Alyne, à época tinha 28 anos de idade e 27 semanas de ges-

tação, procurou assistência em um serviço de saúde particular,

pois apresentava vomito e fortes dores abdominais. Recebeu

prescrição de remédios e foi encaminhada para casa. Após

dois dias seu quadro piorou. Voltou ao mesmo serviço, onde foi

realizada uma ultrassonografia que mostrou que o feto estava

morto. O parto foi induzido. Mas os médicos só fizeram a cirurgia

para retirar a placenta 14 horas depois. Em seguida, Alyne teve

hemorragia e sua pressão arterial caiu. Decidiram transferi-la

para um hospital público da região. O hospital de aceite foi o

Geral de Nova Iguaçu. Alyne esperou oito horas por ambulân-

cia. Como a casa de saúde não encaminhou junto qualquer

documento que indicasse o seu estado clínico, ela ficou horas

no hall da emergência, pois não havia leito disponível. Aí, en-

trou em coma e foi a óbito no dia seguinte.