77
VI SIMPÓSIO INTERNACIONAL DESIGUALDADES, DIREITOS E POLÍTICAS PÚBLICAS:
GÊNERO, INTERSECCIONALIDADES E JUSTIÇA
SÃO LEOPOLDO-RS – UNISINOS, 27 A 29 DE NOVEMBRO DE 2018
GT2:
MULHERES NEGRAS RESISTEM: ANÁLISES SOBRE PROTAGONISMOS FEMININOS E NEGROS NO CONTEXTO LATINO-AMERICANO
Paulo, Rio de Janeiro e Salvador. Estas mulheres
são atores centrais da conformação de esferas
públicas de denúncia das violências cometidas
pelo Estado brasileiro com o morticínio de jovens
negro(a)s periférico(a)s executado pelas polícias.
As lideranças negras são em sua maioria mães e
parentes próximas deste(a)s jovens, e reivindicam
não só a estes, como também elas mesmas (as
mães), o lugar e a condição de vítimas. Isto ocorre
na situação das percepções locais de injustiças,
perda violenta de um(a) filho(a) como gerado-
res de traumas. E são encarados como aconteci-
mentos contínuos uns aos outros, ou estruturas de
um mesmo acontecimento. Isso significa que a
ausência de uma resolução judicial e/ou política
da morte de um ente querido, de um(a) filho(a),
é identificado pelas mães como uma causa de
sofrimento da mesma importância como a perda
do ente em si. A não identificação e não conde-
nação dos responsáveis pelo ato, e ausência de
autorresponsabilização dos governos pelas mor-
tes é, segundo estas mães negras em movimento,
um intensificador de seu próprio sofrimento. Esta
injustiça é o
leitmotiv
de sua mobilização sociopo-
lítica. É evidente no discurso destas mães negras
que o Estado é o responsável por sua forma de
sofrimento, e a partir desta dicotomia constroem
a legitimidade de sua atuação no espaço públi-
co. O antropólogo argentino Diego Zenobi (2014)
chama a atenção para que se evite a dicotomi-
zação entre os atores da sociedade civil e do Esta-
do, e dar atenção à permeabilidade destes seto-
res, ao analisar as vítimas e familiares na situação
de incêndio da boate portenha Cromañón. Mas
tais permeabilidades discursivas das mães com os
setores do Estado, ainda não refletem num aten-