238
VI SIMPÓSIO INTERNACIONAL DESIGUALDADES, DIREITOS E POLÍTICAS PÚBLICAS:
GÊNERO, INTERSECCIONALIDADES E JUSTIÇA
SÃO LEOPOLDO-RS – UNISINOS, 27 A 29 DE NOVEMBRO DE 2018
GT4: DIREITOS SEXUAIS E DIREITOS REPRODUTIVOS
tade” da médica em lhe explicar sobre como seria
o parto vaginal, ou seja, a obstetra até queria um
parto normal, mas nos seus termos e nos seus mo-
dos. Refletindo sobre esta questão e, principalmen-
te, sobre a força do discurso médico e científico,
compreendemos que ao não informar as mulheres
sobre os tipos de parto e a opinar sobre qual forma
de nascimento o profissional prefere, este acaba
influenciando diretamente a decisão das mulhe-
res, as quais, inseguras e fragilizadas, irão seguir os
comportamentos que o profissional acredita ser o
melhor. Ou, como no caso de Simone, não os com-
portamentos e ações que ela considerava melho-
res, mas aqueles considerados como os que mais
lhe protegeriam de intervenções desnecessárias e
indesejadas. Inicia-se, nesse contexto, um jogo de
poderes, uma relação desigual, onde sempre amu-
lher representa o lado mais fragilizado, tendendo a
acatar o que a lógica biomédica determina. Entre
enfrentar o poder biomédico e resignar-se frente às
resistências apresentadas a ela,
Simone
caminhou
em direção a segunda opção. Aceitou, foi induzi-
da, resignou-se, mas em nenhum momento esco-
lheu. O parto não seria dela. Não haviam opções,
não haviam escolhas. No fim de sua trajetória, Si-
mone precisou aprender a viver com o luto pelo
parto que não teve oportunidade de escolher: “
É
triste porque não era o que eu queria, né!(...) Não é
o meu parto, é o parto dela.
”
Palavras-chave:
Parto; Nascimento; Saúde da
Mulher; Escolhas; Poder biomédico
REFERÊNCIAS
GEERTZ, C.
A interpretação das culturas
. 1. ed. Rio
de Janeiro: LTC, 2008.